sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Soneto

Nestes dias calmos de Outono tenho revisitado Eugénio de Andrade. Já tive oportunidade de oferecer a sua obra a várias pessoas. Valeu sempre a pena. Até mesmo com aquelas que não valorizaram a oferta se aprende. Às outras espero tê-las sempre perto.
Soneto

Amor desta tarde que arrefeceu
as mãos e os olhos que te dei;
amor exacto, vivo, desenhado
a fogo, onde eu próprio me queimei;

amor que me destrói e destruiu
a fria arquitectura desta tarde
– só a ti canto, que nem eu já sei
outra forma de ser e de encontrar-me.

Só a ti canto que não há razão
para que o frio que me queima os olhos
me trespasse e me suba ao coração;

só a ti canto, que não há desastre
de onde não possa ainda erguer-me
para encontrar de novo a tua face.

Eugénio de Andrade, in Os Amantes sem Dinheiro


2 comentários:

Anónimo disse...

Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro.

Sigmund Freud

Anónimo disse...

Egoísmo não é viver à nossa maneira, mas desejar que os outros vivam como nós queremos.

Oscar Wilde