segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Rir

Até mesmo quem nunca leu o “O Nome da Rosa” de Umberto Eco sabe do que consta o tema. E até mesmo quem nunca leu, percebendo ou não do que consta o tema, provavelmente viu o filme onde Sean Connery interpreta o franciscano Guilherme de Baskerville que, assistido pelo noviço e narrador Adso de Melk, investiga uma sucessão de mortes numa abadia medieval. O criminoso acaba por ser o bibliotecário (um clássico logo a seguir ao mordomo) Jorge de Burgos, monge capaz de tudo para esconder o livro de Aristóteles sobre o riso. Diz o grego filósofo que se o homem é o único “animal que tem cócegas, isso deve-se à espessura fina da sua pele, mas também ao facto de ser o único animal que ri”. No livro, o monge franciscano representa o racionalismo humanista do renascimento e uma alteração de pensamento profunda.
Sem procurar encontrar as cócegas a ninguém diria       que, por vezes, a religião nos impede de rir e dá umas tonalidades de cinzento até aos dias mais solarengos.
Para mostrar o contrário, os jovens da Missão País encerraram, este fim de semana, a sua passagem entre nós. Com um conjunto de atividades que mostram que religião pode estar aliada à boa disposição e o riso, estes jovens fomentaram a criação de bons valores, particularmente entre a população escolar. Oxalá estes valores tenham Eco até mesmo depois da sua partida e como no livro de Umberto, uma alteração de pensamento profunda.

2 comentários:

Anónimo disse...

O Teu Riso
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda

Anónimo disse...

Simplesmente lindo!