De toda a diversidade programática da televisão por cabo tenho-me demorado
naqueles programas onde se caçam tesouros de diversas formas. Se uns compram em
leilão objetos não reclamados nos aeroportos outros andam a vasculhar sótãos e
garagens à procura de relíquias históricas. Há outros que, tendo uma casa de
penhores, avaliam uma série de armas com bastante valor histórico. O gerente da
casa de penhores diz sempre, lacónico, que após tantos anos no negócio há uma
coisa que aprendeu: “nunca sabe o que poderá entrar pela porta”.
De certa forma acontece-me o mesmo quando abro o jornal ou vejo o noticiário.
Nunca sei que tesouros vou encontrar. Em Lisboa, os cantoneiros, encarregues da
recolha do lixo estiveram em
greve. Sim , estas pessoas ignoradas, que trabalham em horas
impróprias, que ganham pouquíssimo, que não tem perspetivas de carreira e que
fazem um trabalho que ninguém quer entraram em greve. E porque? Para que
os seus empregos não sejam mais precarizados com a sua passagem para as juntas
de freguesia.
Se em Lisboa, a câmara quer delegar funções, vejo que em Óbidos encontro
outro “tesouro”. A câmara testa uma nova escola municipal, estando a negociar
com o governo um novo modelo de gestão para garantir mais intervenção na
organização das escolas. A intervenção negociada inclui questões pedagógicas e
poderia incluir a responsabilização da câmara na contratação dos professores. Imaginam
as câmaras a definir os programas letivos? E a contratar os professores? Com
que critérios?
Já sei que os tempos de crise podem levar a algum desnorte mas é
precisamente nesses tempos que deveria aparecer o melhor de cada um de nós e
das instituições. Que essas mesmas instituições se metam em campos para os
quais não estão vocacionadas não me parece a melhor das medidas. Quando se abre
o jornal nunca se sabe que tesouros vamos encontrar…tesourinhos deprimentes!
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