Há um calor
doentio mesmo nestes fins de tarde. Mas as esplanadas estão repletas de gente
sedenta de conversas banais ou importantes. Há um ruído quente entre aqueles
que, pouco a pouco, chegam após o término da jornada imposta pelo relógio.
Sento-me, só, em
silêncio numa destas esplanadas algures na nossa vila. Peço uma cerveja que
refresque a tarde deste Estio intenso. Uma vizinha minha, que me odeia
visceralmente, passa em marcha apressada. Para que tanta teimosia? Porque
querer ver-me como algo que não sou? Deve ser mais cómodo assim.
Vislumbro uma
amiga que, após a segunda tentativa, estaciona no outro lado da rua. Senta-se
junto a mim. Os seus olhos claros e sorriso aberto cúmplice iniciam uma
conversa amena que dá mais tempero ao prato de caracóis acabado de aterrar na
mesa.
- Devíamos
escrever um blogue! – diz-me enquanto ajeita o cabelo cor mustang. Sorrio
ironicamente.
As crianças no
parque colocam os tons agudos e completam os graves que se notam nalgumas caras
mais sérias. Há harmonia naquele quadro, tal como harmoniosa é uma colega de
liceu que é agora professora, no nosso mesmo liceu, e que se dirige para sítio
incerto mas, que com certeza, será a sua casa.
Ainda esbaforido,
com as chamadas para o telemóvel, senta-se junto a nós um amigo e colega de
trabalho. Conta-me as últimas, quer saber as últimas, viciados nós em
acontecimentos de uma terra onde nada acontece.
Olha para a minha
amiga desconfiado. Eles conhecem-se mas nunca se viram.
A minha vizinha,
a que me torna infame, leva a filha, de carro, para o ballet.
Chega,
finalmente, para fechar a mesa, a menos evidente destes quatro personagens.
Senhora respeitável e respeitadora, vive de livros e entre livros. Com andar
pausado e seguro senta-se na última aresta livre da mesa e pede uma água lisa e
simples.
Não reconheço já
o mundo, nem o que sou, o que é minha alma nem esta parte de mim. Sim, é
preciso descansar. Vocês de mim e eu desta parte do meu ser que diz aquilo que
penso.
2 comentários:
Está um calor... Então e as listas do PS à nossa autarquia? "Desque" está tudo igual. É assim mesmo! A equipa que ganha não se mexe! Gosto muito do Sérgio Bicho! Viva ele!
Sobre a Raya Jovem, Eça de Queirós, nos finais do século XIX, escreveu:
"Um sopro grosseiro de desordem reles passava sobre o hipódromo, desmanchando a linha postiça de civilização e a atitude forçada de decoro."
E pronto... É isto!
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