quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Cultura de Massas


O post que vos trago é o número 600 do DeCampoMaior. Não é um post especial, e até duvidei, até ao último momento, se seria o tema adequado. Por outro lado sei que é um tema que gera sempre muita discussão e que podia ser bom para assinalar as seis centenas de posts. Talvez fator de desempate tenha sido uma notícia que li sobre a Fundação Serralves. Acontece que sem aviso prévio “terminou com dois momentos simbólicos da sua programação anual”. Segundo a notícia terminou o programa de música e posteriormente o Trama – festival de Artes Performativas. Não é esclarecedora, a notícia, dos motivos por estas duas suspensões, mas a suspeita do costume deve ser a crise e os cortes na cultura.
Por cá também é discussão recorrente o tema dos fundos para a cultura e se estes serão a causa das boas ou más agendas culturais. Devo dizer que sobre este tema, e desde que o observo com mais atenção, que tem havido episódios para todos os gostos.
Lembro-me de se gastar muito dinheiro em música pimba mas que enchia recintos…era a cultura pimba…lembro-me de vir o Sérgio Godinho mas não encher o Centro Cultural…era a cultura erudita Também me lembro de termos os maestro Victorino de Almeida e de outro maestro ter criticado o elevado cachet…afinal a cultura tem preço? Também me dizem que pode haver cultura por pouco dinheiro…pode haver boa cultura low cost? É difícil ser vereadora da cultura em Campo Maior, digo isto para a atual, para a precedente e para aquelas que venham…e falo no feminino porque me lembro de uma vez uma pessoa da política local me ter dito que era de bom tom a cultura ficar entregue a uma senhora enquanto as obras a um senhor…as pessoas gostavam desta arrumação…É a cultura de massas!

7 comentários:

Anónimo disse...



Parabens pelo post 600. Espero que continue por muito mais tempo com esta qualidade. Sem dúvida o melhor blog de Campo Maior

Mestre Pandemónio disse...

A cultura em Campo Maior resume-se ao Zézinho Almeida a fazer umas coisinhas, às aparições da Anselmina em tudo o que é festas (dava para escrever uns livros: "Anselmina nas Festas do Povo"; "Anselmina na Raya Jovem"), noite de fados, teatro de revista brejeira, um tonto a tocar na avenida, as belas das sevilhanas (projecto interessante - já que não vamos a Sevilha, vem Sevilha a nós). É um pagode!

Distinto, o seu post. Aborda os dois lados da moeda: se Sérgios Godinhos e Vitorinos não servem, o que serve? Será que vale a pena investir mais? E aquele museu aberto? Não deixa de ser um "mono" com uns painéis a explicarem a história da terra e um filme a mostrar a matança do porco. A biblioteca??? Ah! Fecha nas férias escolares e tal... Pudera! Durante o ano lectivo pouca utilidade tem, durante as férias mais às moscas estará. Não se lê, nunca se leu! Fechem a biblioteca! O Centro Cultural tem uma coisa ou outra, muito pouca se olharmos para o investimento num espaço megalómano. Se é possível fazer cultura "low-cost"??? Pois... porque o dinheiro não abunda (a história do dinheiro, sempre a história do dinheiro, estamos em crise e blá... blá...). Sim, é possível! Mas vale a pena? A Vereadora está a fazer um mau trabalho? Depende do ponto de vista. Não se dão pérolas a porcos. Está a fazer o trabalho possível. Se calhar, só quem olha para o tema da cultura em Campo Maior são quatro ou cinco pessoas. Em dez mil habitantes que tem a terra não vamos só fazer caso a esses quatro ou cinco, já que as minorias não rendem. Não quero acreditar que o executivo não olhe para a cultura. Mas, de certeza absoluta, que se questionam: rende mais trazer um tonto a tocar ao jardim ou o Sérgio Godinho ao Centro Cultural? Isto não é uma crítica ao executivo que pouco ou nada faz para mudar o panorama. É uma crítica ao povo que não dá credenciais nenhumas para que o executivo invista na boa cultura.
Cumprimentos, caro Jack e felicidades pelo 600º post. Continue!

Anónimo disse...

Senhor Mestre Pandemónio, fico muito feliz por fazer parte do seu conceito de cultura em Campo Maior assim como pela importância que me dá, permita que o corrija na realidade o meu nome é José Manuel Almeida. Obrigado e continue pois a cultura também é feita destas e de muitas outras coisas.

Mestre Pandemónio disse...

Desculpe, caro José Manuel Almeida. Mas, se a cultura é feita destas e de outras coisas, diga-me quais são as outras coisas. Das duas uma: ou não sou de cá, ou, quando choveu, em vez de ter chovido água, choveu cultura, tanta cultura que uma pessoa não sabe para onde há de se virar. Mas, continuo na minha: o executivo não é totalmente culpado se não houver receptividade do povo. O que acha? Já que está tão informado, pode ter uma perspectiva diferente. Afinal, estamos num local de debate. Não vivemos no tempo da ditadura e isto é um blogue, não é a rádio pirata (a "pirinaica") que existia no tempo do fascismo. Um bem haja!

Anónimo disse...

É o que se chama "bofetada de luva branca". Bravo!

Anónimo disse...

Parabéns pelo seu post 600. Já que de cultura se trata, deixo um poema...

Blogue

Mantivera no fim da adolescência
aquilo a que chamava simplesmente
o seu diário íntimo:
páginas manuscritas onde ardiam
rastilhos de mil sonhos que rasgavam
as mordaças da angústia social,
a timidez tão própria da idade.

Nessa caligrafia cuja cor
fora ainda a do sangue
colheu a energia necessária
para atravessar como um sonâmbulo
o ordálio daquela juventude,
o seu incandescente calendário
de amizades vorazes, tão velozes
como os amores que julgava eternos
e outras feridas mal cauterizadas.

Hoje quase não volta a essas páginas:
estamos no século XXI
e em vez do diário de outros tempos
mantém agora um blogue
onde todos os dias extravasa
recados, atitudes, confissões,
coisas no fundo tão inofensivas
como o fogo que outrora lhe acendia
as frases lancinantes
- embora hoje em dia quando escreve
tenha por um momento a ilusão
de que as suas palavras continuam
a propagar ainda o mesmo vírus,
e a alimentar, quem sabe, os mesmos sonhos
sempre que alguém desconhecido as ler
como quem só assim então escutasse
um segredo na noite do mundo.

Mas, apesar de todo o entusiasmo
que o mantém acordado por noites sem fim,
ele adivinha que também virá
um dia a abandonar sem saber como
o seu atual vício solitário
e dentro de alguns anos, ao reler
as frases arquivadas no computador,
talvez tudo isso lhe pareça então
fruto de gestos tão adolescentes
como os que antigamente preenchiam
esses cadernos amarelecidos
e hoje sepultados para sempre
em esquecidas gavetas de outro século.

Fernando Pinto do Amaral

Jack The Ripper disse...


Obrigado pelas felicitações e pelo excelente poema! Parece mesmo a história da minha vida!