sábado, 13 de setembro de 2008

Dos mitos sobre as Festas do Povo

As tradições centenárias têm, geralmente, associadas alguns mitos. As Festas do Povo de Campo Maior também os têm. No entanto, apenas irei referir dois que até são relativamente recentes.
1. As Festas são feitas quando o povo quer.
Quem, durante a sua vida, acompanhou as sucessivas realizações das Festas sabe que isto é apenas meia verdade. A iniciativa de fazer as Festas sempre esteve centrada numa entidade que dava o primeiro passo para as concretizar. Entre outras, foi iniciativa da Câmara Municipal e, depois da sua constituição, da Associação das Festas do Povo. Quem não se lembra dos cortejos de oferendas para conseguir o dinheiro para o começo das festas, ou do carro com altifalante que percorria as ruas da vila a tentar entusiasmar as pessoas para deitarem mãos ao trabalho e fazer as flores de papel que iriam ornamentar cada uma delas?
É claro que só quando havia um número suficiente de ruas a aderir é que se concretizava a ideia das Festas. E só aqui é que está a parte da verdade.
Mas, muitas vezes, a decisão foi tomada por quem teve a ideia de realizar as Festas e o povo sentiu-se na obrigação de participar para não deixar mal-vista a sua rua e a sua terra.
2. As Festas são o resultado de um trabalho colectivo das pessoas de cada rua.
A acreditar nisto, parece que toda a gente, nas diferentes ruas, participa no trabalho de fazer as flores de papel e os outros elementos que ornamentam as ruas. Tradicionalmente, são as mulheres que se encarregam das flores e os homens dos trabalhos em cartão, arame, madeira , cana e outros materiais utilizados para as entradas, colunas, candeeiros e vários suportes. Mas são poucos os que participam neste trabalho. E não é só nos últimos anos. Quem, ainda criança, não ouviu os pais reclamarem pelos vizinhos que não colaboravam? Ou os que se zangavam por este ou aquele motivo e deixavam de ajudar?
Nos últimos anos, em especial em 2004, houve ruas que se ornamentaram com o trabalho de muito poucas pessoas e também com a decisão da Associação das Festas de ter grupos a trabalhar para algumas delas. Uma das razões porque isto aconteceu é o envelhecimento da população da parte mais antiga da vila e o facto de muitas casas terem ficado desabitadas.
E é com esta realidade que devem contar as pessoas que pensarem voltar a fazer as Festas do Povo de Campo Maior. As Festas têm de ser repensadas devido às mudanças que se deram na vila. Talvez por isso fazê-las é um encargo muito grande porque não é possível voltar ao tempo em que cada vizinho dava a sua contribuição para a compra dos materiais. E também porque hoje já não podemos pensar em fazer as flores com os materiais que se usavam então, em que predominava o papel de seda e o plissado fino era um luxo.
Em conclusão:
Se não houver uma reflexão profunda sobre as transformações que se deram em Campo Maior nos últimos cinquenta anos, se não houver soluções que estejam de acordo com essas transformações, qualquer tentativa futura de organização das Festas não passará de um esforço sem continuidade assegurada, como já se verificou nas últimas realizações das Festas.
Enfim, será fundamental considerar que não é com grandes agitações e euforias populares que se encontrará a solução mais certa para garantir o futuro daquilo que é a mais autêntica tradição de Campo Maior.

1 comentário:

Três horas da manhã disse...

Esses dois pontos que analisa são de facto mitos em grande parte.

As Festas não são quando o povo quiser, mas sim quando alguma facção quiser e o povo aderir, se bem que sem povo não há festas!

As Festas não são resultado colectivo em alguns casos, pois hoje em dia ninguém faz nada por favor, existindo assim muitas pessoas que não estão dispostas a fazer flores para encherem o bolso de alguns. Na minha perspectiva, é como acho que as pessoas pensam.
Existem todavia casos em que tal não é assim, pois em alguns locais existe camaradagem e as pessoas são umas para as outras.

As Festas deveriam voltar aos primórdios, mas hj em dia tal é impossível!