Na semana passada, estava eu de regresso à vila depois de uma semana de
trabalho, quando entrei num dos nossos bares mais típicos. Fiquei, discreto,
mudo, quase invisível num dos cantos observando um grupo de clientes que tal como
eu comemorava o descanso de fim de semana. Entre conversas vadias de temas
comuns e incomuns, o dono desdobrava-se em cumprimentos para alguns elementos, enquanto
os copos de cerveja formavam fila no balcão. – Está bem assim, Doutor? Ou quer
mais Seven Up na imperial? (sim, há quem deite gasosa na cerveja). Toda esta
reverência a dois indivíduos com ar distinto, chamaram a atenção a dois outros
do mesmo grupo. Interpelou o primeiro: “Já viste, a ti não te chama Doutor por
seres de cá e aos outros é Doutor para aqui e para o outro lado”. Respondeu o
segundo: “Isso nem se usa já. Deixa-te disso, já sabes que santos da casa não
fazem milagres”.
Como diria o António Aleixo este tipo de ditados populares tem alguma ponta
de verdade. Quantas vezes não se diz que Campo Maior é uma terra madrasta para
os próprios filhos?
Esta sexta-feira um filho da terra vai falar da sua terra. Esta sexta-feira
o Dr. Francisco Galego vai apresentar, no centro cultural um livro sobre a
Vila de Ouguela. A obra “A Antiga Vila de Ouguela – Elementos para a sua História”
será apresentada aos campomaiorenses. Triplo milagre, dirão alguns, um Campomaiorense
falando de Campo Maior em Campo Maior. Ou
talvez não…os conhecimentos do Dr. Francisco Galego sobre a sua terra dispensam
milagres para se poder falar dela. Não deixem de passar pelo Centro de
Cultural, quer gostem ou não de milagres, quer sejam filhos desta terra ou de
outra qualquer…
1 comentário:
Olá Jack,
Achei a conversa da tasca muito engraçada. O patrão da tasca la teria as suas razões de tratar uns por tu e outros por doutores. Sabe cá o Jack se o patrão da tasca não andou a jogar ao berlinde com os que tratou por tu? Deixemo-nos destas considerações arcaicas. Abomino esta mania tipicamente portuguesa de hierarquizar o tratamento.
Quanto ao reconhecimento e orgulho que deveria haver por parte da comunidade perante intelecutais locais que zelam pela nossa história, o que lhe vamos fazer? Essa atitude é universal e remota. Lembre-se que o proprio Jesus não passou do filho do carpinteiro!
Já agora, de quem é filho o "Chico Galego" ?
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