segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O De Campo Maior dos Maias

“A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era conhecida na vizinhança da rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janellas Verdes, pela casa do Ramalhete ou simplesmente o Ramalhete” começa assim a obra “Os Maias” de Eça de Queiroz. Neste quase outono surge uma excelente notícia. A adaptação da obra ao cinema pela mão mais romanesca de João Botelho despertou-me a curiosidade.
Quem já leu encontra nesta obra queirosiana uma critica aos costumes da época e um retrato de Portugal em decadência que tal como hoje esteve à beira de uma bancarrota.
Tudo uma “choldra ignóbil” como diz Eça. Quando li o livro apreciei particularmente a cena do hipódromo onde toda a ironia queirosiana se revela no desenho, “a carvão”, da sociedade.
A intriga principal relata uma relação incestuosa entre Carlos da Maia e Maria Eduarda mas o resto das personagens são ricas em representatividade apesar de não terem dimensão psicológica. Desde Cohen o banqueiro judeu que se aproveita da má situação do pais ao conde do Gouvarinho, o retrato do político incompetente. E o que dizer de Cruges? O músico idealista que remete à mediocridade cultural? E Dâmaso, cuja preocupação é ser “chique a valer”, grande adulador mas que morde à traição. Ou a condessa de Gouvarinho que representa a decadência moral da aristocracia. Também a não perder de vista Palma Cavalão símbolo do jornalismo corrupto e sem princípios e Craft, um homem a valer, nas palavras de Afonso da Maia, o granítico e austero avô de Carlos, representando o velho Portugal. E por fim João da Ega, verdadeiro alter-ego de Eça de Queiroz.
Fica a sugestão e um desafio. A sugestão para verem o filme e o desafio para num destes dias, num Mercado da Praça qualquer, qual cena do hipódromo, o leitor se vista de Eça e retrate a sociedade campomaiorense.

“Com efeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa alguma…Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras: - Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder…”

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