“A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era
conhecida na vizinhança da rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das
Janellas Verdes, pela casa do Ramalhete ou simplesmente
o Ramalhete” começa assim a obra “Os Maias” de Eça de Queiroz. Neste quase
outono surge uma excelente notícia. A adaptação da obra ao cinema pela mão mais
romanesca de João Botelho despertou-me a curiosidade.
Quem já leu encontra nesta obra queirosiana uma critica aos costumes da
época e um retrato de Portugal em decadência que tal como hoje esteve à beira
de uma bancarrota.
Tudo uma “choldra ignóbil” como diz Eça. Quando li o livro apreciei
particularmente a cena do hipódromo onde toda a ironia queirosiana se revela no
desenho, “a carvão”, da sociedade.
A intriga principal relata uma relação incestuosa entre Carlos da Maia e
Maria Eduarda mas o resto das personagens são ricas em representatividade
apesar de não terem dimensão psicológica. Desde Cohen o banqueiro judeu que se
aproveita da má situação do pais ao conde do Gouvarinho, o retrato do político
incompetente. E o que dizer de Cruges? O músico idealista que remete à
mediocridade cultural? E Dâmaso, cuja preocupação é ser “chique a valer”,
grande adulador mas que morde à traição. Ou a condessa de Gouvarinho que
representa a decadência moral da aristocracia. Também a não perder de vista
Palma Cavalão símbolo do jornalismo corrupto e sem princípios e Craft, um homem
a valer, nas palavras de Afonso da Maia, o granítico e austero avô de Carlos,
representando o velho Portugal. E por fim João da Ega, verdadeiro alter-ego de
Eça de Queiroz.
Fica a sugestão e um desafio. A sugestão para verem o filme e o desafio
para num destes dias, num Mercado da Praça qualquer, qual cena do hipódromo, o
leitor se vista de Eça e retrate a sociedade campomaiorense.
“Com efeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa
alguma…Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras: - Nem para
o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder…”
Sem comentários:
Enviar um comentário