Nicolau Santos, desde a sua coluna Cem por Cento do suplemento de Economia
do Expresso, já nos habituou a ser a nota dissonante com a sua opinião.
Desta vez conta-nos e elenca algumas inverdades sobre o processo de
privatizações aceite, quase como inevitável, no nosso fatal fado do processo de
ajustamento.
A primeira inverdade é que tudo o que é publico é mau e será sempre melhor
gerido pelos privados. Ora o governo só tem vendido as empresas públicas que dão
lucro. Veja-se o caso mais recente dos CTT. A segunda inverdade decorre da
primeira, a gestão privada é sempre melhor a não ser que a gestão pública seja
feita por outro estado que não o português. Veja-se a Ren entregue a empresas públicas
chinesas. A terceira inverdade é que a privatização resultará em melhores
preços para os consumidores. A electricidade baixou? E por fim a quarta é que
os centros de decisão ficam em Portugal. Onde está o centro de decisão da Cimpor
? No Brasil após a Camargo Correa ser acionista maioritário. Esperemos que não
toquem no banco público.
Por isso as decisões políticas da República (a palavra república deriva de
res publica, a “coisa” pública) devem ser coerentes e não inverdades. E tanto
desde a direita à esquerda deve-se discutir temas importantes para todos. Por
exemplo a direita estuda a hipótese de avançar com o registo, no serviço
nacional de saúde e no boletim infantil, dos hábitos tabagísticos dos pais e a
esquerda já estudou recentemente a hipótese de proibir o piropo. Não há temas
mais importantes? Sobre o piropo eu até diria que está em desuso, sendo quase tão
kitsch como aqueles gorros de lã que escondiam, discretamente, o rolo de papel
higiénico nas traseiras dos carros.
Doris Lessing, recentemente falecida, e mulher mais velha a receber o Nobel
da literatura afirmou que o feminismo, a respeito dos direitos da mulher, tinha
perdido em palavras bonitas em vez de se concentrar em mudar as leis. Diga-se
então, por aqui, que os políticos, se foquem nos temas verdadeiramente importantes.
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