segunda-feira, 24 de junho de 2013

Mais que tijolos

Passei pelas obras do Centro Escolar e já é possível vislumbrar as estruturas dos futuros edifícios. No seguimento passei pela minha antiga e já velhinha escola primária. Á minha memória vieram algumas lembranças dos tempos passados no pátio enlameado no Inverno e poeirento no Verão. As jogatanas rasgadas do futebol,  “apanha apanha” e o “esconde esconde”  do recreio eram regadas pelo leite escolar, que começou a ser distribuído naquele tempo.
Tive uma professora austera, religiosa e por isso onde está agora a fotografia do presidente da república havia um crucifixo. Rezava-se à entrada e à saída. A professora nunca faltava, nunca se atrasava e muito menos se cansava.
Nenhum aluno era hiperativo, nenhum tinha défice de atenção e apesar da régua já poucas vezes ser utilizada mantinha-se perto do braço direito da professora “para manter o respeito”. O único terror era quando se avistava a Dona Ivone, a entrar na escola, com a caixa das vacinas ou para alguma campanha de rastreio já não sei bem do que. Digo único porque tive a sorte de não ter o Professor Almeida, uma lenda a distribuir “bolachas”.
Foi naquele pátio que pela primeira vez vi neve. Outra grande recordação, essa da neve, que interrompeu uma festa de Carnaval e nem os gritos da Dona Graciete impediram que os pequenos amotinados abandonassem a festa para correr, sem rumo, pelo pátio gelado e com os flocos a derreterem nas nossas caras.
Os meus pais não estudaram mas mandavam-me a estudar…e a ler…e a escrever…e falavam com a austera professora não fosse algo estar fora dos eixos.

O novo Centro Escolar foi irrepreensivelmente financiado pelo município cabendo-lhe um pequeno esforço enquanto a União Europeia financia a maior parte do projeto. Mas atenção, por ser assim, não quer dizer que não sejamos responsáveis pelo valor total. Isto é, num momento conturbado para a educação e para os professores será necessário mais que tijolos para que os resultados apareçam. É preciso que os pais sejam mais responsáveis no acompanhamento dos filhos e esperar que a situação dos professores acalme. O distrito de Portalegre continua a ser dos distritos onde as notas são mais baixas. Devemos alterar o estado das coisas mas será preciso mais que tijolos! 

1 comentário:

Unknown disse...

É sempre positivo criarem-se condições, seja através de infra-estruturas, ou através de melhorias. Os tempos mudaram. No tempo do Professor Almeida vigorava o fascismo e muitos professores exageravam no poder que lhes era concedido: ensinar e bater. Hoje em dia, o professor continua a ensinar. Cabe ao aluno bater, desrespeitar e, claro, os pais nada fazem (muitos dão razão aos filhos). Resumindo, se vinte alunos decidirem bater no professor (digo vinte porque quatro ou cinco ainda se interessam pelo saber), ainda vêm os pais desses vinte alunos juntarem-se à festa. Se vierem os pais e as mães desses vinte alunos, dá um total de sessenta pessoas a agredirem um professor. Resultado: morte certa! Não é fácil o papel de um professor! Na ditadura não havia um equilíbrio. Hoje também não. Qual é o equilíbrio? Difícil resposta.

Eu não apanhei o tempo em que havia o ATL Alice Nabeiro, nem o ATL Arco-Íris, nem o Centro Comunitário. Não sou do tempo da ditadura. Apenas não appanhei esse tempo. Em termos de educação, Campo Maior tem todas as condições para muitos alunos serem bem sucedidos na escola. Na minha altura apenas havia as "mestras", em que nos faziam (atenção! FAZIAM) os trabalhos de casa. Em Campo Maior se não há aproveitamento escolar é porque as crianças e os pais não querem. Em Campo Maior, vive um Homem que se preocupa com a educação dos seus conterrâneos. E muitos o que fazem??? Entram na crítica "bota-abaixista"! Resumindo, acho que a burnalidade pode ser suavizada se os pais não fossem tão burnais quanto os filhos. Simples!

Quanto à obra do novo centro escolar, merecemo-la?

E esta publicação está o máximo. Levanta o problema com uma ironia refinadíssima! Não haja dúvida que Campo Maior é uma terra de artistas.
Cumprimentos, Jack!