segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A Matemática das Coisas

Há alguns anos, comprei numa feira do livro De Campo Maior, um livro verdadeiramente interessante. Efetivamente, já lá vão alguns anos, o autor era quase desconhecido na altura. O livro chama-se Matemática das Coisas e regista, em termos simples, paradoxos, curiosidades e histórias matemáticas. A Matemática é uma ciência fascinante, fundamental para a nossa história e omnipresente no nosso quotidiano. As obras de Picasso, as transações bancárias via Internet, os mapas modernos e a derrota de Hitler só foram possíveis graças a ela. As suas aplicações aparecem onde menos se suspeita. As histórias matemáticas são histórias de sucesso.
Quando lerem estas linhas o Ministro da Educação estará em Campo Maior para lançar o arranque do novo Centro Escolar. A obra é de envergadura e totaliza um investimento total de 8 milhões de euros. O município, cumprindo o seu papel de garantir as melhores infra-estruturas comparticipará com 630 mil euros.
Este investimento acontece num momento bastante conturbado para a Educação e é aqui que começam os paradoxos. O primeiro paradoxo é dado pela União Europeia que manda a cortar na educação mas garante investimento em tijolos. O segundo paradoxo vem do ministério que melhora as condições das salas de aula mas aumenta também o número de alunos por turma e o rácio número de professores por número de alunos. E o terceiro paradoxo vem dos próprios professores que contestam as dispensas de contratados mas, durante anos e anos, boicotaram todos os sistemas de avaliação que não fossem baseados na antiguidade e não no mérito.
Paradoxalmente, o autor do livro é Nuno Crato, o ministro que estará entre nós para a inauguração. Um homem lógico, da matemática mas apenas mais um ministro da educação, o vigésimo sétimo da era pós 25 de Abril, e que se terminar o seu mandato, será apenas o décimo de entre estes 27 que o consiga.
Quanto às gerações futuras que podem usufruir de melhores condições direi apenas que Campo Maior só beneficiará delas, num futuro, se as mesmas aqui permanecerem. É o último paradoxo…preparar as gerações futuras e as mesmas irem para outras paragens por aqui não encontrarem condições para se fixarem.

5 comentários:

Anónimo disse...

Eu tenho dois livros do Dr Crato sobre Matemática. Gostei do seu conteúdo, agora, como ministro...

Anónimo disse...

Às vezes as questões são simples: há dinheiro? haverá financiamento até ao fim? Se sim, avancem!
Por outro lado, o que fazer ao parque escolar que ficará vazio? Não vão inventar associações ou colectividades à pressão para ocupar os espaços!
Vejo que será uma escola até ao 3º ciclo e a secundária? Se ficar só com esse ciclo de ensino , não estará sobredimensionada? A não ser que se esteja só a considerar o único edifício remodelado!
Seria bom alguém esclarecer os campomaiorenses antes das eleições e mesmo antes de se avançar com este tipo de obras. Não estabelecendo paralelo, mas as piscinas avançaram e depois...fecharam! Até que voltaram a abrir!

Anónimo disse...

Deixo, em duas publicações, as palavras de Valter Hugo Mãe sobre os professores para quem tiver tempo e/ou pachorra para ler. Não diz nada de inovador, todos nos identificamos em alguma das situações relatadas e todos sabemos que nos estão a hipotecar o futuro:
Os professores
Achei por muito tempo que ia ser professor. Tinha pensado em livros a vida inteira, era-me imperiosa a dedicação a aprender e não guardava dúvidas acerca da importância de ensinar. Lembrava-me de alguns professores como se fossem família ou amores proibidos. (…) A escola, como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito... Ver mais de liberdade intelectual, de liberdade superior, onde cada indivíduo se vota a encontrar o seu mais genuíno, honesto, caminho. Os professores são quem ainda pode, por delicado e precioso ofício, tornar-se o caminho das pedras na porcaria de mundo em que o mundo se tem vindo a tornar. Nunca tive exatamente de ensinar ninguém. Orientei uns cursos breves, a muito custo, e tento explicar umas clarividências ao cão que tenho há umas semanas. Sinto-me sempre mais afetivo do que efetivo na passagem do testemunho. (…) Sei perfeitamente que não tenho pedagogia, não estudei didática, não sou senão um tipo intuitivo e atabalhoado. Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que os recebe. Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões. Quantas vezes me senti outro depois de uma aula brilhante. Punha-me a caminho de casa como se tivesse crescido um palmo inteiro durante cinquenta minutos. Como se fosse muito mais gente. Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos incríveis para se discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo. Houve um dia, numa aula de história do sétimo ano, em que falámos das estátuas da Roma antiga. Respondi à professora, (…), que eram os olhos que induziam a sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza. Quando me elogiou a resposta, a minha professora contente apenas me premiou a maravilha que era, na verdade, a capacidade de induzir maravilha que ela própria tinha. Estávamos, naquela sala de aula, ao menos nós os dois, felizes. (…) quando estive em Florença me doíam os olhos diante das estátuas que vira em reproduções no sétimo ano da escola. E o meu coração galopava como se estivesse a cumprir uma sedução antiga, um amor que começar muito antigamente, se não inteiramente criado por uma professora, sem dúvida que potenciado e acarinhado por uma professora. (…)

Anónimo disse...

Continuação das palavras de Valter Hugo Mãe

(…) Dá -me isto agora porque me ando a convencer de que temos um governo que odeia o seu próprio povo. E porque me parece que perseguir e tomar os professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum miúdo, e massacrá-los é como pedir que não sejam capazes de cuidar da maravilha que é a meninice dos nossos miúdos. É como pedir que abdiquem de melhorar os nossos miúdos, que é pior do que nos arrancarem telhas da casa, é pior do que perder a casa, é pior do que comer apenas sopa todos os dias. Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as escolas, que são fundamentais para melhorarem os nossos miúdos, é o fim do mundo. Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade, disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de afeto. As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. E um país que forma os seus cidadãos e depois os exporta sem piedade e por qualquer preço é um país que enlouqueceu. Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada. Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se.

Anónimo disse...

Enquanto este Portugal se for minando de pequenas invejas entre as suas diferentes classes trabalhadoras...o futuro, se existir, será limitado e negro!
Cada profissão tem o seu encanto e os seus problemas, todos se queixam mas ninguém tem razão!
É um pouco, por exemplo, como a ADSE, todos criticam mas poucos esclarecem que é uma espécie de seguro de saúde para o qual os beneficiários descontam do seu próprio ordenado! Bem ou mal não quero agora discutir isso!
É preciso perceber que os políticos, de forma descarada e criminosa, procuram constantemente denegrir as diferentes classes trabalhadoras. E muitos, portadores de pouco discernimento, acabam por colaborar nesse objectivo. Um dia são os professores, noutro os médicos, depois as finanças e por ai adiante. Agora, sejamos sinceros, estar sempre a levar pancada e desempenhar a profissão com um sorriso nos lábios, isso é masoquismo!
É a ideia do dividir para reinar!
Infelizmente, Campo Maior é parte integrante desta subcultura!