Momentos de Lúcifer

Nestes fins de tarde dou comigo, muitas vezes, a vaguear pela vila. Redescubro recantos, sons e pessoas. Gosto particularmente da parte que conhecemos por “Vila Velha”, ou se quiserem desde a avenida até ao castelo. Numa destas vezes parei onde termina a Praça Velha e iniciamos o contorno do castelo. Há ali um ponto de onde se pode admirar a planície, majestosa, imensa, salpicada por algumas poucas árvores. A calma do fim de tarde contrastava com a rapidez de alguém, que num carro, percorria a estrada que rasga a planície em direção a Elvas.

“Você é da câmara?” – interrompeu-me uma voz com um sorriso largo, tão largo como só dois dentes podem dar tal sorriso. Era uma senhora idosa que deve viver na Aldeia de Pastor. “Queria que me visse a água. Está avariada!”. Respondo lacónico “Não trabalho e a câmara já não tem a ver com a água, sinto muito”. “Tem estado muito calor!”disse, exclamando a derradeira frase, antes de dar meia volta ajeitando o lenço de luto. Mas tinha razão. Estes dias tem sido de muito calor. Dizem que é uma frente de ar quente vinda de África à qual chamaram Lúcifer. Mas mesmo com calor é sempre boa altura para redescobrir Campo Maior. Venham um destes dias a estes recantos, redescobrir Campo Maior e talvez também me encontrem por lá!