Depois de alguns tempo de permanência, sou obrigada a sair de Campo Maior, decisão que desde há algum tempo estava tomada.
Durante os últimos tempos em que cá vivi, para combater a monotonia, criei este blogue. O que começou como simples entretenimento, foi-se tornando numa forma de intervenção na vida local. O convívio com as pessoas ao longo deste tempo fez-me compreender as tendências e os problemas que iam preocupando a sua população.
Para dar uma maior abrangência aos textos que ia escrevendo, a partir de certa altura, criei três personagens diferentes. Foi com algum gozo que assisti às tentativas para identificação da autoria deste blogue. Geralmente, tão tontas e tão desviadas da verdade que só podiam dar-me vontade de rir. Outras vezes não, porque a estupidez é sempre bastante triste pois revela o lado mais tenebroso das pessoas. Nunca conseguiram concluir uma coisa que a mim me pareceu sempre óbvia: Gavião e Cardo escreviam e pensavam da mesma maneira porque eu, como mulher, tinha dificuldade em criar duas personalidades masculinas diferentes. Quanto à Urtiga, foi inspirada numa interessante jovem com quem lidava todos os dias e que, no seu parlar contínuo, sem pausas, encadeando os assuntos numa torrente de palavras e de frases, me deu a ideia de produzir textos escritos tal como ela falava. Claro que ela nem pode imaginar que eu possa ter abusivamente usado das nossas conversas para escrever esses textos.
Tudo isto me divertiu tanto que cheguei a pôr a hipótese de dar continuidade, aqui de longe, a este jogo. Mas, Campo Maior está cada vez mais afastado dos meus interesses que se voltam agora completamente para a realidade em que vou ter que viver nos próximos tempos. Campo Maior é passado e, portanto, é preciso pôr ponto final nesta experiência.
A análise da situação política em Campo Maior - extremada em dois blocos em conflito aberto -, aconselhava prudência para não deixar rastos de identificação. Um dos lados é, de facto, demasiado prepotente, faccioso e sem limites no que respeita à fúria com que persegue os que considera seus inimigos. Não queria ser vítima de ataques e insultos em que costumam ser pródigos. Certas pessoas que neste momento têm poder em Campo Maior são, de facto, bastante mal-formadas e raivosas para não olhar a meios quando se trata de conseguirem vinganças mesquinhas contra os que os incomodam. Veja-se a sanha com que tentaram sempre adivinhar quem eram, na realidade, as personagens por mim inventadas e que não passavam de figuras de ficção.
Tenho consciência de que os incomodei bastante e acho que eles efectivamente o mereciam. Por uma questão de coerência, assumi posições de combate sem, de facto, ter muito a ver com esta guerra. Mas, para quem se orienta por determinados princípios, é natural assumir a defesa do que lhe parece mais justo, atacando os que mediocremente semeiam à sua volta o rasto da desordem e da fúria vingadora em que transformaram as suas tristes vidas.
Diverti-me algumas vezes. Noutras, fiquei afectada pela vilania com que atingiram pessoas que estimo e de quem levo uma grata recordação. Pensando nelas, acho que esta terra merece ter melhor futuro.
Quando este texto for publicado, terei já saído há algum tempo de Campo Maior.
Voltei, num regresso breve, para resolver situações pendentes, o que coincidiu com o período da feira e da fúria inaugurativa que de há muito estava programada.
O meu regresso é improvável. Sei que partindo deixo aliviados aqueles que fui incomodando. Deixo também amizades que não esquecerei. Mas nem a esses vou revelar a minha identidade com receio de que isso lhes possa vir a causar algum incómodo.
Este blogue teve que ser adaptado às novas condições em que passei a viver. Daí resultou que os assuntos sobre Campo Maior foram tendo cada vez menos presença, como se verifica nos últimos textos que tenho vindo a publicar. Estou em fase de adaptação. Veremos como as coisas irão correndo por aqui. É natural que isso venha a ter reflexos naquilo que irei escrevendo, porque todos nós somos influenciados pelas circunstâncias que vão compondo o quotidiano das nossas vidas.
5 comentários:
Adeus até sempre e obrigado pela escrita tranquila com que sempre este blog contou.
Podia até propor-lhe uma parceria para continuarmos o blog mesmo estando à distância mas é provável que não aceite.
E não se preocupe que aqueles que tentaram desvendar a sua identidade, vão dizer que não sai de Campo Maior mas sim que se retira da blogosfera com este cair do pano lento e melancólico.
Mas eu sei que estão enganados...ou será que não?
Quando se acaba de ler um livro é uma história que termina e que fica no nosso imaginário. Igualmente quando nos despedimos de alguém dizemos-lhe até breve e nunca até sempre.
O Blogue "De Campo Maior" no seu adeus encerrou o livro, mas pesso-lhe que não se cale para sempre, continue conosco porque a sua presença estará sempre gravada na nossa memória, permita-me que lhe cite Kliping " O que sabe e não sabe que sabe é um tolo e aquele que sabe que sabe, sigamo-lo".
Bem haja por tudo o que escreveu, Campo Maior agradecer-lhe-á.
Campo Maior, 29 de Agosto de 2009
siripipi-alentejano
Tenho sincera pena que encerre este blog.
Obrigada pelo vosso apreço e pela amizade que demonstram.
De facto, a intenção não é a de acabar com o blogue que neste momento é tão importante como companhia possível nesta fase da minha vida.
Deslocada de tudo o que era hábito e ainda sem referências na nova situação, o blogue e a memória que ele representa, são uma companhia e uma maneira de continuar ligada a uma terra onde vivi.
Neste momento, não posso prometer a continuidade nos modos que eram habituais. Irei comentando a realidade local através dos meios de comunicação disponíveis e continuarei com a "janela" aberta para o que se passa noutras paragens.
É natural que o blogue vá reflectindo as minhas novas vivências.
Quanto a Jack the Ripper, de quem sempre apreciei os comentários, teria todo o gosto na sua colaboração, mesmo sendo apenas através dos comentários. Mas a colaboração no blogue também é possível e assim teríamos assegurada a ligação mais efectiva ao que se passa em Campo Maior.
Ao Siripipi, desejo continuar lê-lo no seu blogue que tantas informações me vai fornecendo, porque é uma das pessoas mais informadas, empenhadas e que proporciona a quem o lê o desenvolvimento de uma atitude crítica e de intervenção cívica nas questões locais.
Ao anónimo, agradeço, mas não vou encerrar.
Até Breve. Obrigado pelos bons momentos que tive ao ler o blog De Campo maior. Desejo-lhe tudo de Bom para onde vai e não se esqueça dos campomaiorenses.
Bem haja por aquilo que escreveu ao longo deste tempo e muita sorte.
Bjs luisa
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