De regresso a Campo Maior, recomeço com a minha peregrinação pelos cantinhos da noite, procurando reintegrar-me no ambiente e saber as últimas cá do burgo. Enquanto o Cardo não chega, a Urtiga que estava numa ansiedade para poder voltar aos seus escritos, faz-me companhia, conta-me as últimas e serve-me de cicerone em certos locais que habitualmente não são sítios onde costumo parar. A novidade maior parece ser a grande surpresa que muitos estão a ter com um certo “miúdo”, que lhes saiu muito acima da expectativa. Parece que o rapaz “saiu muito melhor que a encomenda” e está aí disposto a “baralhar e dar as cartas” para começar uma nova maneira de jogar. Mas isso fica para outra conversa. Nas primeiras noites começámos a ronda pelo bar onde costumam pousar grupos de adolescentes recém-entrados na idade em que se começa a dar os primeiros passos na vida da noite. O ambiente não deixa de ser simpático mas é pouco estimulante para quem procure outros confortos do gosto e da conversa. Daqui passámos ao bar que fica mesmo ao lado, onde encontramos grupos de gente bem mais velha. São os “habitués”, que formam quase sempre os mesmos grupos, contam as mesmas histórias e riem do mesmo modo de graças que, de tão repetidas, só por hábito conseguem ainda provocar o riso. Por vezes, estabelece-se um silêncio de morte e as pessoas olham apáticas para o nada. O que mais impressiona são os que se isolam, escorropicham sozinhos o fel da sua cerveja, perdidos sabe-se lá em que mágoas ou remorsos. Mais ao lado, outro bar frequentado por gente mais jovem. Costuma ser um bom centro de discussão. Viajando entre os grupos conseguem-se interessantes trocas de ideias recolhe-se bastante informação. Pode-se dizer que aqui se fala muito, pensa-se bastante e bebe-se moderadamente. É um óptimo local para um começo de noite. De certo modo, é o local da noite onde encontramos gente com fumos de intelectualidade. Damos um salto a um dos mais interessantes pontos da noite campomaiorense. Por aqui costuma assentar arraiais uma certa classe média a tender para alta ou com pretensões a tal. Mas é também frequentado por funcionários públicos ou das empresas locais. É outro bom centro de informação sobre a vida da terra. Talvez seja o melhor dos “mentideros” da vila, como o Cardo gosta de dizer. Aqui as conversas incidem mais na política do que nas questões literárias. Se a noite for de fim-de-semana e se prolongar pela madrugada, acaba-se por vezes no velho bar que vai até às seis da matina. Para uns é o local para refazer energias fazendo o “lanche” da madrugada. Outros optam por continuar a beber. Os casais vão para baixo e ensaiam as coreografias de dança à medida do fulgor e do desejo na ocasião. Aqui palra-se muito e conversa-se pouco que a noite está a acabar.
41 - Fuga para o Egipto - 2
-
Fuga para o Egipto (1983-1985).
Liberdade da Conceição (1913-1990).
Colecção particular.
*Arte portuguesa*
Em Portugal há um certo número de obras de arte...
Há 19 horas
8 comentários:
Ora viva! Que belo bonze! Já tinha dado pelas suas peregrinações. Até estranhei vê-lo por poisos que não lhe são habituais.
Você reentrou em plena forma. Que belo texto. Aqui fica um belo quadro da nossa noite, caracterizando em pinceladas breves mas certeiras esta nossa sociedade.
Ah! É verdade: pode sossegar que a minha suspeição, quase certeza, que não é de agora, continuará a ser bem guardada. Além de discreto por natureza, compreendo que deve continuar prudente ao máximo. Sabe? não estou nada interessado a perder as suas belas prosas.
Creia-me com toda a consideração...
Olhe que não... Olhe que não...
Como dizia o outro, homem inteligente e sábio, a quem ninguém conseguia fazer dizer o que ele não queria que se soubesse.
Sabe? Eu acredito que certos nomes podem ser a revelação intencional de uma personalidade...
Não se (nos) iluda ...
O baralho só aparentemente é igual, porque um jogador experimentado nestes jogos, vê logo que todas as cartas são “reis” do mesmo naipe...
E nesta coisa de jogos, como sabe, não há jogos de sorte, serão mais cedo ou mais tarde sempre de azar...
Quanto ao “miúdo” obrigado a jogar, é, e será sempre, uma carta fora do baralho.
Aqui está um truque velho como o mundo: se não tenho nada para dizer contra o meu adversário, então digo que o perigo está em que ele está a agir a mando de outro e esse sim é que é o grande perigo. É a velha história do lobo e do cordeiro: se não foste tu terá sido o teu pai.
Ora bem... Estão a querer enganar quem?
Afinal quem é esse papão com que nos querem meter tanto medo?
Será por acaso aquele senhor que, em tempos idos já esteve à frente da administração do concelho de Campo Maior, e tão boa conta deu do recado?
Será exactamente o homem que mais contribuiu para o desenvolvimento desta terra e que mais trabalhou pelo bem-estar da sua população?
Será por ventura o homem que melhor e maior fama deu a Campo Maior, tornando-o conhecido no país e no mundo?
Afinal o que pertendem o detratores desta personalidade atirando sobre ele a raiva do seu ódio insano e contrário ao interesse desta terra e deste povo?
Provavelmente manter os dentes ferrados neste bolo que conseguiram abocanhar e que querem a todo o custo continuar a devorar em seu próprio benefício.
A estrágia é conhecida: eu sou corrupto, mas clamo alto que os outros é que são os corruptores. Eu desvio em meu benefício o que a todos pertence, mas ponho-me a gritar: agarra que é ladrão! eu manipulo, calunio e minto mas vou espanhando à boca pequena: cuidado que ele é um grande inimigo público em quem não podemos confiar.
Tenham juizo o papão assusta criancinhas tontas e tontos que deviam ter mais discernimento. Mas os homens, homens, íntegros e competentes, não alinham nessas tretas.
Ao percorrer certos blogues de Campo Maior, encontramos comentários que não podem deixar de surpreender quem veio de fora.
Bem sei que estamos em período pré-eleitoral. Mas, seja como for, deve haver limites e um mínimo de coerência nas posições que se apresentam em público. E uma das coisas que devem ser tomadas em consideração quando se trata de discussões políticas será, julgo eu, manter uma certa credibilidade.
Senão vejamos: se me preguntarem o que é que torna Campo Maior uma terra que, inegavelmente, é bastante reconhecida por muita gente em todo o país, eu não terei grande dificuldade em apontar os factores que lhe têm dado grande visibilidade:
- em primeiro lugar, as Festa do Povo;
- depois o Campomaiorense pela carreira que teve a nível das mais altas competições do futebol nacional;
- depois e com grande relevo, a sua principal iundústria, os cafés e, dentro desta, uma marca se destaca a nível nacional, a Delta;
- se perguntarmos por alguém relacionada com Campo Maior, o nome mais referido será sem dúvida Nabeiro.
Se conhecemos mais de perto a vila e o modo de viver da sua gente, salta aos olhos que ela constituiu um caso à parte no conjunto das terras do interior alentejano. Se tentamos explicar porque não está em regressão demográfica, porque ostenta bom nível de vida, de novo a trilogia Café- Delta-Nabeiro, vem á mente.
No entanto, é aqui que, num certo grupo de gente da terra, encontramos uma atitude de hostilidade que raia o absurdo pois, onde os outros vêem logicamente razões de elogio, eles só vêem razões de critica, de censura e de rejeição,para com esta família. E tudo isto parece não ter sentido. Não há nisto nenhuma lógica porque tudo isto tem uma boa carga de pensamento pelo absurdo.
Ou será que tem lógica demais e que essa lógica está apenas camuflada pela necessidade de certos interesses muito pessoais?
Caro Gavião,
Sauda-se o regresso ao activo. Bom e descontraido comentário para iniciar uma nova etapa.
Gostava de fazer um reparo ao comentário do Sr. Alberto Mestrinho.
Quando diz que Campo Maior não está em regressão geográfica engana-se. O erro é comum, há uma ideia instituida que Campo Maior não perdeu população quando a realidade é diferente, Campo maior tem perdido população, a um ritmo mais lento que o resto do Alentejo é certo, mas mesmo assim em decréscimo. Para confirmar esta ideia basta ver o resultado dos censos.
Podemos encontrar várias explicações para este facto, algumas comuns ao resto do país. As explicações sociológicas serão o envelhecimento da população e a diminuição do número de filhos por agregado familiar. No entanto, também devo notar, que são muitos jovens que não conseguem fixar-se no concelho, porque não conseguem o emprego que pretendem ou porque quando estudam fora já não regressam.
ola amigos, eu não sou ao lado do sr. nabeiro mas a verdade é só uma esse empresário é um ponto positivo para a nossa vila, certo? agora esse sr burriga está de costas viradas para todos os empresarios de campo maior, por ai nao é bom fazer politica, o que me interessa os jovens fazerem uma formação depois não terem trabalho'? para fujirem ás estatisticas do dezemprego, politica sem ética é uma vergonha
Enviar um comentário