quinta-feira, 2 de julho de 2009

Um homem de triste sucesso

Era de chã inteligência, embora não completamente destituído de alguma capacidade de resolver com argúcia certas situações.
Recebera curta e insuficiente instrução. Por sua natural inclinação, nunca cuidou de adquir um mínimo que fosse de verdadeira cultura.
Tudo isto fez que fosse destituído de princípios morais, de regras de boa educação ou de outros entraves que servissem de obstáculo à sua desmedida ambição.
Por astúcia e calculismo, fingiu-se humilde sempre que isso lhe pareceu o melhor caminho para alcançar os seus desígnios. Trair, mentir, caluniar, intrigar, conspirar, manipular consciências, pressionar inclinações, submeter vontades, eram para ele simples recursos que constantemente usava, sem consciência e sem sentir qualquer sombra de remorso.
Fingia pretender o bem dos outros, para apenas garantir o seu próprio bem. Os outros estavam divididos entre os que se dispunham a servi-lo e que por isso apaparicava e os que se lhe opunham e que desapiedadamente combatia procurando aniquilá-los.
Vingou na vida, conquistou cargos de importância, alcançou poder, sentiu-se importante. Mas, porque havia coisas que nunca tinha podido alcançar, por vezes sentia um certo vazio e frustração, parecendo-lhe a sua vida algo destituída de sentido. Não percebendo que nunca tivera verdadeiros amigos, condenara-se a viver rodeado cúmplices e de lacaios. Ou seja, condenara-se à mais triste das solidões.

4 comentários:

Fingidora disse...

Estou farto de dar voltas ao miolo e não descortino quem está neste retrato que de forma tão pormenorizada traçou em linhas e tonalidades de fino recorte e de grande realismo.
Quem será o figurão? Será o ... Não, não pode ser! Esse é muito pior do que aqui se diz.

João Ratão disse...

Então você vai pôr a carceca do homem à mostra?
Não se faz uma coisa destas. Tem de haver mais respeito e consideração por quem adquiriu tanto poder e tanta importância.
Mas lá que o retrato está parecido, lá isso está. No meu entender até o favorece e muito.

Agapito disse...

Bom. Quando de um lado se colocam descaradamente todos os recursos do município ao serviço de uma pré-campanha de um candidato a candidato à câmara municipal, quando nessa campnha se apostam mesmo os recursos que estariam disponíveis para as próximas décadas em obras tão megalómanas quanto discutíveis no que respeita à sua necessidade, estas "bicadas" certeiras até têm de se tolerar.

Anita Vinhas disse...

Meu caro:
Você escreve mesmo muito bem. Este texto é de antologia. O ritmo da frase, a simplicidade da linguagem e a capacidade de representar tanto e tão bem, com tão poucas palavras, só é acessível a quem domina com mestria a nossa língua.
Acho que, no ano que vem, vou ler este texto com os meus alunos.