sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Não, não é cansaço

Eis aqui aquele que será o último poema publicado no DeCampoMaior

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...

Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa 

3 comentários:

Anónimo disse...

Jack estás acabado, muda de vida.

Jack The Ripper disse...



caro anónimo

Estou mesmo, faltam apenas 5 posts!!!!

Obrigado por me acompanhar nestes últimos dias

Anónimo disse...

Para o senhor (a) anónimo!
Acabado? Está a terminar uma etapa, mas não está acabado! Ainda espero que volte!
Quem acha que está acabado é porque é ignorante!