quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Nenhum de nós é Cary Grant


Certa vez, eu e um grupo de amigos, resolvemos pregar uma partida a um outro amigo que sistematicamente chegava atrasado à biblioteca da universidade sempre que havia trabalho de grupo. Daquela vez o encontro era no apartamento onde vivia um de nós. A vítima já tinha lá estado uma vez. O elevador levou-o ao 2º andar, a porta abriu-se mas ele deu de caras com um casal desconhecido num hall com decoração diferente. “Querem ver que me enganei?”. Desceu e confirmou o andar e o prédio. Subiu e, novamente, se deparou com o casal desconhecido. Na terceira vez já descemos a busca-lo enquanto alguns de nós mudavam de novo a decoração do hall de entrada. O meu amigo entrou em desespero e quando soube da partida acabou por partir, sem querer, num gesto de raiva, uma jarra comprada nos chineses que, ironicamente, imitava uma jarra chinesa. Anos mais tarde soube que aquela partida era semelhante ao guião de um filme de Hitchcock – “North by Northwest” e onde o apanhado e desesperado é interpretado por Cary Grant.
Não tão desesperados, mas talvez com vontade que fosse uma partida, esteve a Banda 1º de Dezembro a realizar o concerto de Reis, no passado sábado. Talvez tivessem desejado que fosse uma partida haver tão poucas pessoas e, que de repente, a sala se completasse de forma plena. Não foi assim mas fica uma palavra de incentivo aos seus elementos que mostraram o seu trabalho e dignificaram a música.
 Num mundo pop, multimédia e narcisista cada vez cabem menos estes registos, cada vez cabem menos os Hitchcock’s e os Cary Grant’s.

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