«Num país onde a diferença entre os rendimentos dos mais ricos e dos mais pobres é das maiores da Europa, onde o ordenado mínimo é metade do praticado em Espanha mas os salários dos gestores estão ao nível dos auferidos na Alemanha e onde o preço dos bens de consumo é equiparado (quando não superior) aos que pratica no resto da UE, haver quem ache que o caminho é baixar ainda mais os salários de todos custa um bocado a perceber. Claro que num contexto específico - o de uma empresa que arrisca fechar - se aceitam ajustes para salvar postos de trabalho. Mas estabelecer isso como regra geral, ainda por cima fundamentando-a numa espécie de fatalidade estrutural - a do tal desfasamento - acrescentando ainda que "os portugueses se habituaram", surge apenas imoral.»
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Este excerto é da autoria de Fernanda Câncio e foi publicado na página 7 do Diário de Notícias, no dia 27 de Março de 2009.
A propósito dos comentários e pareceres de "uma série de economistas e outros especialistas", publicado na Visão de dia 26 de Março, a autora do artigo, chama a atenção para que estas tentativas se fundamentam na ideia de que só salários de baixo nível poderiam tornar competitiva a economia portuguesa, esquecendo que haverá sempre salários ainda mais baixos em países onde a ausência de direitos e a miséria dos trabalhadores os colocam ao nível de uma quase total escravatura. Acaba por concluir que não é solução aceitável toda a que atente contra a dignidade das pessoas e do trabalho que elas desenvolvem.
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