Não faço ideia de quantas pessoas, vivendo em Campo Maior, terão o hábito de espreitar os textos que José Saramago vai publicando no seu O Caderno de Saramago. Mas não me custa admitir que, para além de mim, possam não ser muitos, ou mesmo nenhuns os que desses textos venham a tomar conhecimento. Embora saiba também que este blogue é lido por muito poucos campomaiorenses, sinto uma enorme necessidade de, com esses supostos poucos leitores, partilhar a excelente reflexão produzida pelo nosso nobel escritor porque nele refere aspectos e problemáticas que dizem respeito à vida e aos sentimentos de muitos de nós. Com a devida vénia aqui o transcrevo:
“Esta tarde ouvi falar de José Luis Sampedro, economista, escritor, e, sobretudo, sábio daquela sabedoria que não é dada pela idade, ainda que esta possa ajudar alguma coisa, mas pela reflexão como forma de vida. Perguntaram-lhe na televisão pela crise de 29, que ele viveu em criança, mas que depois estudou como catedrático. Deu respostas inteligentes que os interessados em compreender o que está ocorrendo encontrarão nos seus livros, tanto escreveu José Luis Sampedro, ou procurando a reportagem na rede, mas uma pergunta que ele próprio fez, não o jornalista, ficou-me gravada na memória. Perguntava-nos o mestre, e também a si mesmo, como se explica que tenha aparecido tão rapidamente o dinheiro para resgatar os bancos e, sem necessidade de qualificativos, se esse dinheiro teria aparecido com a mesma rapidez se tivesse sido solicitado para acudir a uma emergência em África, ou para combater a sida… Não era necessário esperar muito para intuir a resposta. À economia, sim, podemos salvá-la, mas não ao ser humano, esse que deveria ter a prioridade absoluta, fosse quem fosse, estivesse onde estivesse. José Luis Sampedro é um grande humanista, um exemplo de lucidez. O mundo, ao contrário do que às vezes se diz, não está deserto de gente merecedora, como ele, de que lhe dêmos o melhor da nossa atenção. E façamos o que ele nos diz: intervir, intervir, intervir.” (Publicado em 24 de Outubro de 2008)
“Esta tarde ouvi falar de José Luis Sampedro, economista, escritor, e, sobretudo, sábio daquela sabedoria que não é dada pela idade, ainda que esta possa ajudar alguma coisa, mas pela reflexão como forma de vida. Perguntaram-lhe na televisão pela crise de 29, que ele viveu em criança, mas que depois estudou como catedrático. Deu respostas inteligentes que os interessados em compreender o que está ocorrendo encontrarão nos seus livros, tanto escreveu José Luis Sampedro, ou procurando a reportagem na rede, mas uma pergunta que ele próprio fez, não o jornalista, ficou-me gravada na memória. Perguntava-nos o mestre, e também a si mesmo, como se explica que tenha aparecido tão rapidamente o dinheiro para resgatar os bancos e, sem necessidade de qualificativos, se esse dinheiro teria aparecido com a mesma rapidez se tivesse sido solicitado para acudir a uma emergência em África, ou para combater a sida… Não era necessário esperar muito para intuir a resposta. À economia, sim, podemos salvá-la, mas não ao ser humano, esse que deveria ter a prioridade absoluta, fosse quem fosse, estivesse onde estivesse. José Luis Sampedro é um grande humanista, um exemplo de lucidez. O mundo, ao contrário do que às vezes se diz, não está deserto de gente merecedora, como ele, de que lhe dêmos o melhor da nossa atenção. E façamos o que ele nos diz: intervir, intervir, intervir.” (Publicado em 24 de Outubro de 2008)
2 comentários:
Não sou especial admirador de Saramago, é uma pessoa que não me nutre admiração, pelo contrário, poderá ser um excelente escritor, porém quanto "opinador" deixa muito a desejar, podemos referenciar a história de que Portugal seria uma província de Espanha um dia; ou que mais valíamos juntarmos-nos com Espanha e formar um só pais! Acho que estas afirmações para quem sente orgulho no seu Pais, não geram indiferença, pelo contrário.
Outra coisa é a união e a cooperação.
Ao nível do texto transcrito, eu concordo, existem hoje em dia valores que em nada se compadecem com atitudes humanistas.
Vejamos, "basta haver" uma crise para o mundo esquecer os outros problemas do mundo, tais como a fome e aquecimento global. Isto porque, o capitalismo é a ordem mundial.
Já fui por curiosidade ao blogue do Saramago, mas não sou leitor assíduo, porém leio alguns artigos de opinião que são muito mais elucidativos da realidade do que as simples noticias.
Também acho que urge...Intervir, intervir, intervir...
Cumprimentos
PS: Já deve ter visto, mas o seu blogue foi referenciado numa reunião de câmara.
Três horas da manhã: agradeço a informação sobre o post que foi levado a reunião da câmara. Agora espero pela acta para ver qual a justificação, para conferir com mais informação que recolhi sobre o modo como se processou todo este caso.
Cumprimentos
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